Espólio é uma poesia de sustentação criativa contemporânea, que busca o ritmo na construção de verbos substantivos, cujo substrato é a pesquisa histórica/estética humana de uma época.
Acompanho a trajetória poética de Rubervam Du Nascimento desde que ele mesmo se autodenominava poeta de um livro só: A Profissão dos Peixes, livro que foi transformado por seu autor num recital performático, denominado Corpo-a-corpo, levado com muito sucesso por todo o Brasil. Era sua intenção reeditá-lo a cada cinco anos, sempre em edições revistas e diminuídas, até a “impressão da Pedra/Peixe, em enormes cartazes”, moto-contínuo às avessas. Assim foi com a 2ª edição, em 1993 e... bem, o poeta resolveu mergulhar em outras águas, aumentar o estoque do oxigênio e de lá, da “Distanteresina”, enviar seus poemas em garrafas que foram sendo recolhidas em portos sem prévia destinação. Em 1997, uma dessas garrafas é recolhida por Leila Miccolis, da Editora Blocos, no porto do Rio de Janeiro, e leva o 1º lugar do 1º Concurso Blocos de Poesia: Marco-Lusbel desce ao inferno, um livro, no mínimo, perturbador. Sem descuidar da linguagem, particularíssima, o poeta, na pele de Lusbel, vai exercendo seu papel de sedutor de almas, enquanto, não sem uma fina ironia, vai apontando as feridas sociais. Bons anos depois, uma dessas garrafas é recolhida no porto do Recife, e lá recebe mais um prêmio, o Prêmio Literário Cidade do Recife, em 2004, com Os Cavalos de Dom Ruffato, livro premiado e editado pela Fundação Cultural da Prefeitura daquela capital. O poeta revira o seu baú de memórias recolhidas em suas andanças, mas também recolhas da memória ancestral, verdadeiro cavalo de tróia, carregado de surpresas, onde uma avó inca remete a mundos míticos, repletos de simbologias, mas também (novamente) de indignações sociais.